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Crônica: Que saudade!

Que saudade!

Suellen de Oliveira

Tive uma flor que me acompanhou por vários momentos, mas não era qualquer flor, essa, em específico, era muito especial. Todas as manhãs ao acordar, ela sempre estava ali, ao meu lado, me olhava e, com um olhar humilde, me desejava um ótimo dia. E realmente, todos os dias eram ótimos, principalmente, quando eu sabia que ao retornar para casa, depois do trabalho e dos estudos, ela estaria lá me esperando, só para me dizer boa noite e ir dormir tranqüila.

Muitos anos já haviam se passado, e aquela florzinha estava sempre presente, me mostrando qual rumo seguir. Como eram boas as horas que ela me aconselhava, me orientava e me transmitia toda a sua experiência, nem parecia aquela tão pequenina flor.

Quando estava triste, nela surgiam grandes braços, que me acomodavam, eu ficava entre suas pétalas que, além de me aquecerem, me acariciavam a cabeça, e ao passar alguns momentos sobre aquele colo, que ela me oferecia, tudo voltava ao normal, e quando menos esperava, estava eu, ali, ao seu lado ouvindo suas histórias de vida.

Momentos tristes ao seu lado, eram quase que impossíveis, pois, mesmo com um jeito simples, ela era contagiante, fazia todos rirem, e não perdoava qualquer deslize, adorava se divertir com tudo. Era encantadora, e por mais que se ofendesse com algo, jamais se manifestava, pois não era de sua índole magoar qualquer ser, independente de sua raça, tamanho ou cor, relevava tudo, e tornava o ambiente maravilhoso novamente, com seu lindo sorriso rosado.

Então me pegava imaginando, quem realmente foi essa flor? De onde ela veio? Porque cuida assim de mim? E aos poucos fui encontrando a resposta. Observava que ela já não era mais um jovem botão, ela já havia desabrochado, suas lindas pétalas revelavam sua beleza e sua graça, e mesmo que o tempo passava, não lhe deixava quaisquer sinais, estava sempre linda.

Eu não sabia exatamente quando ela havia chegado pois, do que me recordo, ela sempre esteve ali ao meu lado. Parecia mágico, todos que olhavam se apaixonavam, foi então que descobri que ela havia vindo do céu, era um presente divino, talvez, mas que chegou de mansinho, conquistou a todos, já estava ali por um bom tempo e, assim como cuidava de mim, já havia cuidado de outras gerações da minha família. Mas minha mãe dizia que comigo o cuidado era mais especial do que havia sido com ela, será que ia melhorando a cada geração que se passava? Pois, em nenhum momento me considerava tão merecedora de toda aquela dedicação.

Percebi que em mim existia um sentimento muito forte por ela, mas que não conseguia definir, saía do meu alcance, mas quando menos esperava ela me dizia que me amava muito, foi quando percebi que, por aquela pequena flor, sentia amor! Mas não era um amor qualquer, que se sente por uma simples pessoa, era um amor incondicional, que me mostrava o quanto àquela flor era importante em minha vida.

Descobri também que aquela flor era uma rosa, mas diferentes das outras, ela não tinha um espinho sequer, o que a tornava ainda mais especial, e além de tudo era cor-de-rosa intenso, marcante, pois estava sempre iluminada.

Percebi também, que mesmo que o tempo não marcasse sua beleza, estava agindo de outras formas, lhe deixando cada dia mais imóvel e quieta. E isso me preocupava a cada dia.

Quando um dia, sem querer, leio algumas simples palavras de Paulo Coelho que diziam: “As flores refletem bem o verdadeiro”, cheguei a conclusão de que aquela flor tinha um enorme valor, e busquei de todas as formas retribuir a tudo que ela me havia feito. Mas o escritor continuava suas palavras, que me faziam refletir e dizia: “Quem tenta possuir uma flor verá a sua beleza murchando. Mas quem olhar uma flor no campo permanecerá para sempre com ela”, isso me causou, um certo, desespero, jamais queria ver a minha bela flor murchar. Mas me tranqüilizei ao pensar que, em tantos anos com toda beleza, isso poderia ser eterno, afinal eu nunca havia retirado ela do campo, ela sempre esteve ali.

E um dia ao acordar, encontrei ela triste, cabisbaixa, com sua luz fraca e quando questionei sobre o que havia acontecido, apenas me pediu para não se preocupar e me cuidar. Pensei em muitas coisas, mas o sentimento incondicional, às vezes, pode nos cegar…

Aquele dia se passou, e um outro chegou, percebi que estava tudo escuro, olhei correndo para o lado, mas cadê? Ela não estava ali! Saí correndo, procurei por todos os lados, e não encontrava, meu coração estava disparado, voltei para o quarto, e percebi que no chão estavam suas pétalas caídas, sim, tudo que mais temia havia acontecido, minha flor havia murchado e me deixado!

Naquele momento perdi o chão, e me perguntava o que seria de mim? E um vento frio soprou meus ouvidos e ouvi uma voz serena dizer: sempre estarei aqui cuidando de você!

Foi o meu conforto, a minha flor, a minha Rosa, havia murchado! Eu a tive e presenciei isso, mas percebi, também, que estaria sempre com ela, pois ela estava ali no meu campo, e eu todas as manhãs a observei.

Hoje o que sinto é falta, falta dos bons momentos, das histórias, das experiências, das brincadeiras, do carinho, do olhar, do sorriso, das manhãs, dos dias e das noites. Bom sinto muita saudade, mas a cada passo, sinto sua presença, pois a cada coisa que faço lembro da minha flor, da minha Rosa… da minha Vó Rosa!

2 comentários

  1. Parabéns pela crônica, parabéns pelo blog… tá tudo perfeito!! Sucesso! Te amo!!!



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